domingo, 20 de junho de 2010

Perto do Coração Selvagem

Comecei a lê-lo. Primeiro livro de Clarice. Publicado em 1943. Escrito nos tempos da Faculdade de Direito, antes do casamento com Gurgel Valente, se essas datas interessam na vida e obra de uma escritora. Redigiu-o entre Março e Novembro de 1942, concluindo-o num mês, ao isolar-se na Pensão Marquês de Abrantes, no Rio de Janeiro, cidade onde vivia então, trabalhando como jornalista.
É um livro poderoso, invulgar, fortíssimo, em que as sensações se transmutam em sentimentos, carregando os nervos em cada folha. Mas está a ser um livro de inteligência rara, de inesperados modos de ver, densos pensamentos, invulgares, tocantes. Um livro que anuncia, com o fulgor de um raio, uma tempestade solar no modo de viver a vida e na própria vida.
Na biografia que escreveu, Benjamim Moser sugere que o livro seja lido pensando que a autora, judia, leu Espinosa e o aprofundou.
Estou a ler. Cedo à tentação de escrever, retesados que tenho os nervos, incapaz o cérebro, o coração enfartado de comoção. Mais tarde, quando o entardecer frio trouxer razão e noite e com isso paz. Voltarei.