segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A ousadia

O que nos impede na maioria das vezes, de ter o que queremos, de ser o que sonhamos, de fazer o que pensamos, de aceitar com o coração, é a ousadia que não cultivamos... [eis Clarice lembrada aqui em O Privilégio dos Caminhos].

sábado, 13 de outubro de 2007

Explosão

O quadro chama-se «Explosão» e foi pintado em 1975. Devo a sua localização à Júlia Moura Lopes, bem como o lembrar, a propósito, a frase «quero pintar uma tela branca. Como se faz? É a coisa mais difícil do mundo». Esta manhã, que dediquei à redentora preguiça, acordei com uma frase sua «mas já que se há-de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas».

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A Grande Loja

«Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida». Este excerto, cita-o um post de «André», na Grande Loja do Queijo Limiano, onde tem vindo a publicar também sobre ela, lembrando que a 9 de Dezembro, é a data do 30.º aniversário da sua morte.

A perfeição


O intranquilo sentimento, o sentido modo de o dizer: «O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição».

sábado, 6 de outubro de 2007

Um livro de amor




Há quem ignore o amor à leitura, há quem só saiba do amor pela literatura. Compreendi isto ao ler este trecho do conto Felicidade Clandestina de Clarice Lispector, que a Júlia Moura Lopes teve a gentileza de me enviar, amiga também de quem escreveu os Laços de Família. A narrativa é singela. Uma menina «gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruiva­dos«. Uma menina que «tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas». Uma menina que, porém, «possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria». A narrativa é breve, a história de uma menina, cruel, perversa, diabólica, uma menina possuidora de livros que não lia.

A narrativa é desconcertante. Um dia a menina má, gorda, crespa, emprestou, enfim, à ansiosa narradora do conto um livro, pelo tempo que quisesse. De «peito quente e coração pensativo», a menina achatada e sozinha, tinha, enfim, ao alcance de si e a quem se oferecer, «meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o». A narrativa acaba aqui: «Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante».