Neste sábado de tarde há quem esteja na praia, por estar sol, há quem esteja em casa por não suportar os outros, há quem não esteja sequer cá, por passá-la, à tarde de sol e de praia, na escuridão indiferente do dormir. Eu estive com os «Laços de Família» da Clarice Lispector, por ter sido assim que a conheci e hoje senti saudades dela. São contos. E como nunca leio livros de contos a começar pelo princípio, não me recordo qual o primeiro com que me cruzei. Lembro-me sim da interminável viagem aérea em que o livro me fez companhia, o interior do avião e sua eterna noite artificial.
Hoje tenho-o aqui e à frase «não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso». Mais logo, tarde porque é quase Verão, ir-se-á o sol e regressarão os banhistas. Eu acordarei para a noite da insónia, com saudades da vida por viver. Clarice Lispector viveu a vida sublimando em literatura a culpa de o seu parto ter sido a causa da paralisia da mãe. O amor dói quando é feliz, torna-se doloroso quando se ama tristemente.